O Problema dos Rótulos
Hoje quero falar sobre o problema de rotularmos as pessoas, os lugares, os povos, as coisas… e de conhecermos apenas um lado da história. Especialmente sobre os povos, se eu disser, “indígena”, provavelmente algumas das histórias que te vêm à mente seriam: os nativos, os que vendem cestos no sinal de trânsito, que usam cocar, que andam nus.
Veja só, informações como: os indígenas possuem profunda conexão e conhecimento da fauna e da flora, possuem conhecimento valioso sobre como gerenciar e proteger os ambientes de forma sustentável, nos deixaram a crença na eficácia das plantas como auxílio na cura de doenças, heranças culinárias, o hábito de dormir em redes… Nada disso é lembrado de primeira, ou sequer comentado, se é que as pessoas tenham conhecimento disso.
Talvez em se tratando do nosso país, é mais fácil soar familiar essas histórias, mas se perguntarmos a quem pouco ou nenhum contato teve com indígenas no mundo, só vão provavelmente pensar em: selvagens.
Narrativas Incompletas
O mesmo acontece com lugares: África: fome? Miséria? Guerras? Mas dificilmente vão pensar nos grandes escritores e cientistas africanos que contribuem com a evolução da ciência no mundo, muito menos o nome de um africano ganhador do prêmio Nobel da Paz. Quando uma notícia é veiculada muitas vezes, o que ocorre é que ficamos com aquela imagem associada em nosso cérebro e não conseguimos imaginar nada além daquilo que criamos em nossa mente.
Na infância, é muito mais fácil fazermos correlações de lugares, pessoas e fatos como tendo apenas um único rótulo. E quando crescemos a coisa não muda muito. Tiramos conclusões de lugares e pessoas baseados nas avaliações de terceiros, no que ouvimos no boca a boca aumentado e informal, de apenas uma visão. Fazemos isso com vizinhos, com colegas de trabalho, com livros que julgamos pela capa, com a comida que não provamos, com os lugares que nunca visitamos e com os povos que só ouvimos falar um dia.
Estereótipos e Julgamentos
A sensação que tenho é que estamos imersos em um mundo que nos bombardeia de informações superficiais o tempo todo, que mais nos confundem, prejudicam nosso julgamento das coisas, das nossas escolhas, e nos tornam menos inteligentes e mais influenciáveis do que nunca.
As histórias únicas criam estereótipos nas pessoas, deixam a narrativa incompleta. Em se falando do nosso país, é claro que o Brasil é um país de terceiro mundo, que sofre muito com a violência, que tem níveis de pobreza absurdas mascaradas, uma paixão imensa pelo futebol, uma floresta amazônica cobiçada e mulheres lindas e exuberantes nos desfiles de carnaval, mas há outras histórias sobre o Brasil, e não apenas isso, que é o que muitos veem de nós lá no exterior.
Quando o que se mostra é sempre sobre uma única versão de uma pessoa, um lugar, um povo, de uma história, perdem-se os outros fatos que complementam as narrativas e que trazem o contexto real das coisas.
A Diversidade de Narrativas
Quando nós contamos apenas uma parte da história de uma pessoa ou de um povo, nós roubamos a sua dignidade. Eu não posso resumir, por exemplo, a minha história baseada apenas nas experiências negativas, porque seria tornar minha existência superficial e negligenciar todas as outras coisas boas que me formaram.
Quando enxergamos alguém além do julgamento superficial que fazemos ou que fizeram, temos a oportunidade de extrair o melhor de quem for, nós potencializamos essa pessoa, apenas por oferecer uma chance de conhecer outros lados. Ao longo dos anos, as mídias e os detentores de poder acostumaram-se a mostrar apenas o que era conveniente a eles, fazendo com que a nossa mente não conseguisse sequer imaginar nada além, rotulando pessoas, povos, lugares como perigosos, hostis, selvagens e esse é o problema da generalização.
Quando nós recusamos a acreditar em apenas uma única visão sobre algo, nós nos permitimos conhecer e buscar informações realmente importantes, lindas e significativas a respeito de pessoas, de povos, de lugares e isso é acessar a abundância, é como acessar um portal, que te leva a um patamar realmente interessante de sabedoria e conhecimento.
Expandindo a Percepção
Desrotular, desconstruir narrativas, investigar e conhecer o outro lado das pessoas, dos lugares e dos fatos, é tirar a venda dos olhos, é deixar de ser limitado pelo que nos foi vendido da história, é assumir a autonomia do próprio saber e exercitar a criatividade. Se eu pudesse deixar um pensamento a respeito do problema de se ver só um lado sobre tudo, é que ele está intimamente ligado à ignorância e à limitação da expansão da vida.
Conhecemos tão pouco de tudo e não conheceremos tudo de nada. Eu acredito muito que devemos abrir nossa mente e começar a ver o que mais há além do que nós já rotulamos. Da África, o que há além de fome, safáris e guerras? Dos livros, quantos bons livros estão parados em prateleiras por não terem uma capa chamativa? Quantos destinos maravilhosos temos em nosso próprio país e que desconhecemos porque não são rentáveis para as agências de viagem… Quantas amizades deixamos de fazer por ouvir a narrativa de quem analisou superficialmente alguém que estava no pior dia do ano…
A vida, as coisas, as pessoas, os lugares, vão além do que nós ouvimos falar… Pense nisso.