Essa semana, tive um embate com uma pessoa muito amada por mim, alguém com quem realmente me importo. O motivo: conselhos e conflitos familiares. Refleti muito sobre a importância disso para mim. Por que eu queria tanto que a pessoa me ouvisse e seguisse meus conselhos? Estava implorando pra ser ouvida e considerada, do outro lado, a pessoa se mantinha rígida em sua visão, com suas resistências características a alguém que ainda não viveu o suficiente para ter diversos pontos de vista a considerar.
Posso dizer que já vivi diversos tipos de caos em família, em vários níveis e situações, e por isso, pensei que estava apta a aconselhar. Ofereci um conselho para quem não havia solicitado, alguém que só queria ser ouvido, mas ao ouvir, eu quis proteger a todo custo, “enfiando conselhos goela abaixo”. Era mais sobre uma necessidade minha de proteção, por não saber ver o sofrimento alheio, e por isso querer poupar, do que pela compreensão de entender o momento da pessoa e que ela só precisava de apoio, ser ouvida, e não de orientações e métricas que não caberiam a ela.
Quando percebi a furada em que eu estava me metendo, parei. Simplesmente silenciei. Mas não me acalmei. Silenciar e parar foi a única forma que vi de não transformar uma conversa produtiva em uma explosão desnecessária. Me acalmei apenas quando consegui ouvir, com compaixão.
Geralmente só dou conselhos se me pedem, mas há casos em que é difícil ver quem amamos caminhar para penhascos perigosos e não chamar a atenção, sinalizar e exemplificar que o caminho poderia ser outro.
Mas o grande problema é que não percebemos que as experiências que tivemos no passado são inteiramente nossas, com situações e fatos que combinam entre si e que formam a nossa realidade dentro do contexto em que vivíamos em determinado momento. Tentar fazer receita para que alguém siga, baseado em nossa experiência, pode ter um preço caro demais. As variáveis nunca serão as mesmas, as emoções envolvidas não são as mesmas, o cenário e o tempo podem ser diferentes, as motivações, os fatores externos envolvidos… são tantas variáveis que, se pararmos um pouco para pensar, vamos facilmente entender que aconselhar alguém a fazer algo baseado em nossa experiência passada pode ser um grande erro.
Já diz o ditado, se conselho fosse bom, ninguém daria, vendia. No início da minha juventude, um vídeo, do tempo em que tudo era mato ainda na internet, chamado Sunscreen, marcou muito minha vida, assisti por tantas vezes que praticamente decorei o texto. Fazia muito sentido para mim, casava com as questões existenciais que me angustiavam aos 23 anos. E tinha um trecho que dizia: “conselho é uma forma de nostalgia, de retirar o passado da lata de lixo e reciclar por um preço maior do que vale”. E sim, quando oferecemos um conselho, é como uma nostalgia, um momento em que lembramos de como éramos ingênuos ou inexperientes. E como num ímpeto de abraçar a quem fomos, tentamos resgatar esse passado e consertá-lo, oferecemos conselhos para realizar naquele a quem aconselhamos as escolhas das quais não fomos capazes de fazer no passado, mas, talvez, para a pessoa aconselhada, não sejam tão boas assim.
Pessoas passam por problemas parecidos ou iguais. Mas a solução para um pode não ser a mesma para outro. Envolve preparo, envolve maturidade, envolve pessoas, disposição, coragem e muitos outros fatores que podem não ser os mesmos para todos. Uma experiência só é completa quando é vivida. Talvez a gente só precise estar ali quando tudo der errado para alguém, se acontecer. Expor nossas experiências como forma de trazer uma referência ao nosso ente querido pode ser a melhor forma de ajudar, sem precisar direcionar, ditar regras e caminhos. Ser uma fonte de referência e não um ditador de regras…é sobre isso.
Quanto mais forçamos uma situação, mais ela pode “espanar”, como um parafuso em que se aperta demais e estraga a rosca, podemos estragar a conexão que temos com alguém simplesmente por querer ditar regras e conselhos que não cabem ou não são bem aceitos. Cada um tem seu tempo de reconhecer e amadurecer em seus processos e está tudo bem. Não conseguimos poupar ninguém de nada, mas podemos estar aqui quando precisarem, para dar o acolhimento que não tivemos. E isso sim, fará toda a diferença para o fortalecimento desse vínculo no futuro. Menos conselhos e mais acolhimento!
Boas energias. ✨